domingo, 25 de janeiro de 2009

looks
braceletes
brincos
colares
anéis
amutelos
adornos
contornos
retornos
guetos
tribos
mantras
incenso

o mundo se resume
na troca de guarda
fusão entre dia e noite
confusão de cores
profusão de idéias
frase que se espalha
espelho que reflete
pela porta entreaberta
a clareza que amanhece

Cântico negro



"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!


poema de José Régio

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

20 de janeiro


Ó meu São Sebastião

Fostes preso e amarrado

Livrai-nos dos inimigos

Que nos traz acorrentado

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

sertão




fotos chema madoz

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

múltiplo



como é bom acordar
com o dinheiro na conta
muito trabalho na agenda
com o dia cheio
e a carteira vazia
sem
dívidas


melhor ainda dormir
com a consciência tranquila
de uma tarefa cumprida
com a barriga cheia
e a cabeça vazia
sem
dúvida

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

sem dinheiro porém com inspiração

.

ser contemplado é fácil
difícil mesmo receber a verba
gastar dinheiro é fácil
o difícil é fazer render

bordar a renda é difícil
é mais difícil escolher
dizer poema é fácil
mais fácil ainda entender

bordadeira borda
o poeta chora triste que é
a rendeira rende
a viola chora voz de mulher

contemplar a lua, o sol, o rio, a maré
de matéria etérea toda matéria é o que é

verba é verbo palavra é lavra
é pura lava de vulcão
o artista é livre
vive de brisa no furacão
meu irmão

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

tudo a seu tempo






















és um senhor tão bonito
quanto a cara do meu filho
tempo tempo tempo tempo
vou te fazer um pedido
tempo tempo tempo tempo

compositor de destinos
tambor de todos os ritmos
tempo tempo tempo tempo
entro num acordo contigo
tempo tempo tempo tempo

por seres tão inventivo
e pareceres contínuo
tempo tempo tempo tempo
és um dos deuses mais lindos
tempo tempo tempo tempo

que sejas ainda mais vivo
no som do meu estribilho
tempo tempo tempo tempo
ouve bem o que te digo
tempo tempo tempo tempo

peço-te o prazer legítimo
e o movimento preciso
tempo tempo tempo tempo
quando o tempo for propício
tempo tempo tempo tempo

de modo que o meu espírito
ganhe um brilho definido
tempo tempo tempo tempo
e eu espalhe benefícios
tempo tempo tempo tempo

o que usaremos pra isso
fica guardado em sigilo
tempo tempo tempo tempo
apenas contigo e migo
tempo tempo tempo tempo

e quando eu tiver saído
para fora do círculo
tempo tempo tempo tempo
não serei nem terás sido
tempo tempo tempo tempo

ainda assim acredito
ser possível reunirmo-nos
tempo tempo tempo tempo
num outro nível de vínculo
tempo tempo tempo tempo

portanto peço-te aquilo
e te ofereço elogios
tempo tempo tempo tempo
nas rimas do meu estilo
tempo tempo tempo tempo

....

oração ao tempo - caetano veloso

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

ora ye ye ô

rios a fio

chuva que cobriu
o céu
azul
de nuvens

chuva que caiu
do mar
azul
distante

chuva que choveu
no rio
chuva se perdeu
no meio-fio

chuva que limpou
o céu azul
sem nuvens

chuva se lançou
no mar
azul
ausente

chuva que varreu
o rio
chuva que desceu
no meio fio

chuva que molhou
o meu amor
brotou
semente

chuva que regou
o meu jardim
floriu

choveu
você em mim
floriu
você
choveu em mim ...
choveu