sexta-feira, 29 de maio de 2009

arre menina
inda bem que tu viesse
pra essa terra de ninguém
se eu soubesse
se pudesse
me mandava
marraquesh
politicamente falando
nem sei o que estou esperando
para ir pra bagdá
quem sabe
não fico por lá
jardim de alá
o que que há ?
se afora o peito
invade a tarde
esta saudade
do tempo de tempestade
de antigamente
futuro novamente
presente
de aniversário
concentração de planetas
cometas
tantas loucuras
necessárias
nesses anos todos
quantas boas idéias
planos
o universo já foi grande
já foi antes
resta agora
o sempre instante
o intermitente intrépido
barbante
navalha equilibrista
equidistante

sexta-feira, 15 de maio de 2009

enterre seu interesse
em tese eu reconheço
invejo o que não tem preço
meu apreço S.O.S.
repare pelo avesso o verso
o meu tropeço é certo
o meu entrave
esbarra nesse começo
amarra esse contexto
a chave é o segredo
a senha é bobagem
a latitude é falsa
a longitude um porre
o endereço dos meus pés
é aqui

por que você não vem me visitar ?

quarta-feira, 29 de abril de 2009

licença


sua benção meu pai
vou pedir licença pra entrar aqui
vim pedir a sua proteção
e mais
vim pedir pra entrar

sua casa meu pai
toda natureza
é aqui
todo mundo entra
mas
não sabe pedir

dá licença meu pai
peço sua benção e proteção
pra seguir esse rio
daqui
nessa imensidão

sua casa meu pai
toda correnteza
é aqui
nessa água tensa
que
me faz refletir

minha crença meu pai
é a influência do perdão
sempre pronta a agradecer
seguir
minha intuição

com leveza meu pai
sua casa vou pisar
dessa terra peço proteção
e mais
sua benção meu pai

sábado, 25 de abril de 2009

pode me dizer

se vem sol
não sabe
se vem chuva
alarde
de manhã
não sei
se é sol
que inunda
a praia deserta
ou é chuva
que afunda
o rio mais perto
de manhã
acordo
e não sei
dizer
por que
rabisco
a vida
é risco
todo dia acordo
todo dia é chuva
é sol, é frio, é calor
é talvez
quem sabe?
o dia vai nascer
assim
quem sabe?
todo dia acordo
e ainda não sei
quem sabe?
pode me dizer

quinta-feira, 16 de abril de 2009

saudades de ceumar

a casa os canais
o mar do outro lado
o mar andar
de bicicleta e ver
o mundo todo
rodar girar
entardecer
de outro lugar
distante
se o mundo fosse
tão pequeno
antes
ouviria os sinos
os brados
se o mundo fosse
justo
a beleza se dividiria
em pétalas
que choveriam
só pra você

se acaso os canais
interromperem o fluxo
e os diques da cidade
não suportarem a força
de Posseidon
reza aos deuses todos
desvia o curso do destino
oferece a dádiva
da lembrança
toda distância
é pura imaginação
descansa do seu cansaço
enche os olhos
de alegria
canto que atravessa o dia
sereia que seria
o sonho de estar aí

um dia

segunda-feira, 16 de março de 2009

índio velho assoviou
o vento soprou
a folha tremeu
a chuva caiu

o caboclo de longe respondeu
ai ai ai
quem manda nessa terra sou eu

o trovão tremeu
o raio piscou
olara
a chuva caiu
gavião piou
olara
o vento soprou
rio arrepiou
ô ô ô
peixe se escondeu
nuvem trovejou

o caboclo de longe respondeu
ai ai ai
quem manda nessa terra sou eu

indio velho assoviou
caboclo gritou
esse rio é meu

domingo, 8 de março de 2009

bom dia !

acorda baby
já é tarde
olha o céu azul
da cor
deste domingo

acorda baby
que o dia está lindo
que o tempo
anda lento
e o sol
está sorrindo

acorda baby
já passou da hora
de estar dormindo

acorda ...

eu já vou indo ...

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

mar de xaraes



rio é margem
rio é miragem
rio que chove na paisagem
o tempo lento
eu invento moda
bandeira ao vento
matos e matas
rumo a dentro
o rio a fora
o rio é ida
é despedida
volta a esperança
a lua dança
rio mudança
águas ramagens
miram passagens
nos vastos pastos
roçam no vento
o que é que está
do lado de lá ?
é mar
é mar

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

fruir
o fluxo do tempo
flutuar
ao relento
fluir
líquido no vento
ralentar
este momento

sover e absorver
ler e rever
ver e reler
solver e absolver

nada disso me resolve
quando ando às voltas
quanto estou às tontas
como amarro as pontas
o que você me conta ?

sou toda ouvidos
até o meu umbigo
tem diminuído
até os acentos
eu economizo
os centavos
os delitos

sou toda instinto
quem com ferro fere
com ferro será ferido
quem usufrui o tempo
desse fluxo incontido?
a lua cheia tem perfume
de flor-de-laranjeira
a lua cheia cheira
perfume de flor

a lua vem
a lua vai
a lua volta, menina

a lua míngua, mina
desaparece

está no céu de dia
à noite cresce

a lua cheia
chega
a noite tece


a lua cheia tem perfume
de flor-de-laranjeira
a lua cheia cheira
perfume de flor
a lua cheia tem perfume
de flor-de-laranjeira

a lua é mulher

sábado, 7 de fevereiro de 2009

assombros


sou uma moça polida
levando
uma vida lascada

cada instante
pinta um grilo
por cima
da minha sacada


++++++++

que viagem
ficar aqui
parada


alice ruiz in navalhanaliga

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

ser ou não ser



moda da menina trombuda

é a modada menina mudada
menina trombuda
que muda de modos e dá medo

(a menina mimada!)

é a moda da menina muda
que muda demodos
e já não é trombuda

(a menina amada!)

*****************

a bailarina

esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina
não conhece
nem dó nem ré
mas sabe ficar
na ponta do pé
não conhece
nem mi nem fá
mas inclina o corpo
para cá e para lá
não conhece
nem lá nem si
mas fecha os olhos
e sorri

roda, roda, roda
com os bracinhos no ar
e não fica tonta
nem sai do lugar.
põe no cabelo
uma estrela e um véu
e diz que caiu do céu

esta menina
tão pequenina
quer ser bailarina
mas depois esquece
todas as danças,
e também quer dormir
como as outras crianças

Cecília Meireles in ou isto ou aquilo

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

canção de amor dimpulso

...

tenho certeza
tereza
eu vou pagar as contas
vou entregar os pontos
vou entoar um ponto
vou te contar um conto
tereza
eu vou te amar
como um louco tereza
vou me entregar
vou me curvar
eu vou ceder
só pra ver você chegar
você passar
tereza
posso quebrar a cara
posso sair de cena
posso entrar em cana
pra você tereza
me notar
deixar de fazer onda
sair da praia
enfim
cair no mar
mergulhar
em mim
tereza do mar
tenho certeza
vou te amar

(toda canção de amor é rídicula
não seria se não fosse)

domingo, 25 de janeiro de 2009

looks
braceletes
brincos
colares
anéis
amutelos
adornos
contornos
retornos
guetos
tribos
mantras
incenso

o mundo se resume
na troca de guarda
fusão entre dia e noite
confusão de cores
profusão de idéias
frase que se espalha
espelho que reflete
pela porta entreaberta
a clareza que amanhece

Cântico negro



"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!


poema de José Régio

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

20 de janeiro


Ó meu São Sebastião

Fostes preso e amarrado

Livrai-nos dos inimigos

Que nos traz acorrentado

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

sertão




fotos chema madoz

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

múltiplo



como é bom acordar
com o dinheiro na conta
muito trabalho na agenda
com o dia cheio
e a carteira vazia
sem
dívidas


melhor ainda dormir
com a consciência tranquila
de uma tarefa cumprida
com a barriga cheia
e a cabeça vazia
sem
dúvida

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

sem dinheiro porém com inspiração

.

ser contemplado é fácil
difícil mesmo receber a verba
gastar dinheiro é fácil
o difícil é fazer render

bordar a renda é difícil
é mais difícil escolher
dizer poema é fácil
mais fácil ainda entender

bordadeira borda
o poeta chora triste que é
a rendeira rende
a viola chora voz de mulher

contemplar a lua, o sol, o rio, a maré
de matéria etérea toda matéria é o que é

verba é verbo palavra é lavra
é pura lava de vulcão
o artista é livre
vive de brisa no furacão
meu irmão

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

tudo a seu tempo






















és um senhor tão bonito
quanto a cara do meu filho
tempo tempo tempo tempo
vou te fazer um pedido
tempo tempo tempo tempo

compositor de destinos
tambor de todos os ritmos
tempo tempo tempo tempo
entro num acordo contigo
tempo tempo tempo tempo

por seres tão inventivo
e pareceres contínuo
tempo tempo tempo tempo
és um dos deuses mais lindos
tempo tempo tempo tempo

que sejas ainda mais vivo
no som do meu estribilho
tempo tempo tempo tempo
ouve bem o que te digo
tempo tempo tempo tempo

peço-te o prazer legítimo
e o movimento preciso
tempo tempo tempo tempo
quando o tempo for propício
tempo tempo tempo tempo

de modo que o meu espírito
ganhe um brilho definido
tempo tempo tempo tempo
e eu espalhe benefícios
tempo tempo tempo tempo

o que usaremos pra isso
fica guardado em sigilo
tempo tempo tempo tempo
apenas contigo e migo
tempo tempo tempo tempo

e quando eu tiver saído
para fora do círculo
tempo tempo tempo tempo
não serei nem terás sido
tempo tempo tempo tempo

ainda assim acredito
ser possível reunirmo-nos
tempo tempo tempo tempo
num outro nível de vínculo
tempo tempo tempo tempo

portanto peço-te aquilo
e te ofereço elogios
tempo tempo tempo tempo
nas rimas do meu estilo
tempo tempo tempo tempo

....

oração ao tempo - caetano veloso

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

ora ye ye ô

rios a fio

chuva que cobriu
o céu
azul
de nuvens

chuva que caiu
do mar
azul
distante

chuva que choveu
no rio
chuva se perdeu
no meio-fio

chuva que limpou
o céu azul
sem nuvens

chuva se lançou
no mar
azul
ausente

chuva que varreu
o rio
chuva que desceu
no meio fio

chuva que molhou
o meu amor
brotou
semente

chuva que regou
o meu jardim
floriu

choveu
você em mim
floriu
você
choveu em mim ...
choveu

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Cara Carol

respirar mais fundo
apenas pra sentir o cheiro
da terra molhada

:) atento à força do Prâna
mais um instante de vida

chove na marquise -
aquece o sono do mendigo
um cobertor vagabundo

:) um carrão levanta a sarjeta
dá um banho na vovó

por todos os cantos florescem
ipoméias azuis

:) como é bela a natureza...
sibipirunas... poinsétias

> a pomba suja
> sacia a sede na água turva
> que desce o meio-fio

:) o gato de olho vazado
se aproxima de mansinho (*)

> feliz aniversário -
> há quantos anos não via
> meu velho amigo ?

:) dois coelhos numa cajadada -
Bom Natal! Feliz Ano Novo!


........


:) em parceria virtual com celso pestana (haicai-l/yahoo)

sábado, 13 de dezembro de 2008

FOTOGRAFIA E HAICAI - MEIO AMBIENTE E TECNOLOGIA

O respeito pelo meio ambiente, a compreensão dos ciclos naturais e a sensibilidade para com natureza aumentam na medida em que o participante amplia sua observação e percepção do universo, e a partir desta apreensão passa a fazer um relato poético do instante. No terreno da poesia, praticando haicai estamos seameamos e cultivamos o amor pela natureza .
De forma complementar, a fotografia - recorte de imagem que retrata o aqui e agora - reforça os conceitos apreendidos do haicai, e possibilita uma ampliação do foco e das possibilidades de interação as artes e o meio ambiente.
Por outro lado, o avanço da tecnologia digital e da internet vai permitir que a produção de imagens e poesia seja continuamente publicada, com a criação de um fotoblog da comunidade ou em outros sites disponíveis, onde a troca de informações é infinita.
Como numa colcha de retalhos o tempo se desenrola em espiral e conceitos ancestrais se mesclam, se costuram e se apropriam daquilo que há de mais moderno, a amplitude da comunicação, que reverbera mas deve preservar o olhar autêntico de cada indivíduo sobre si mesmo e sobre o ambiente.


>>

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

a rã de bashô
salta sobre as nuvens -
espelho d'água

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

primavera não nos deixe

" ...

sendas de ôku - a viagem de bashô

luas e sóis (meses e dias) são viajantes da eternidade.
os anos que vêm e se vão são viajantes também.
os que passam a vida a bordo de navios ou envelhecem montados a cavalo estão sempre de viagem, e seu lar se encontra ali onde suas viagens os levam.
os homens de antigamente, muitos, morreram pelos caminhos, e a mim também, durante os últimos anos, a visão de uma nuvem solitária levada pelo vento me inspirou contínuas idéias de meter o pé na estrada...

... quando, em 27 de março, me pus à caminho, havia neblina no céu da madrugada.
a pálida lua matutina tinha perdido o brilho, mas ainda se podia vislumbrar debilmente o monte Fuji. Em Ueno e Yanaka, os ramos das cerejeiras em flor me despertaram pensamentos tristes ao perguntar-me se algum dia os voltaria a ver.
meus amigos mais queridos tinham todos vindo à noite na casa de Sampu, para poder me acompanhar durante o curto trecho de viagem que eu faria em barco.
quando desembarcamos num lugar chamado Senju, a idéia de começar uma viagem tão longa me encheu de tristeza.
de pé sobre o caminho que talvez ia nos separar para sempre nesta vida que é como um sonho, chorei lágrimas de despedida:


primavera não nos deixe
pássaros choram
lágrimas no olho do peixe


..."

(Tradução: Paulo Leminski, in Bashô, a lágrima do peixe, ed. Brasiliense, 1983)